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quarta-feira, 25 de abril de 2018

DISCALCULIA OU DISCALCULIAS, ESPECIALISTA DISCUTE SOBRE O ASSUNTO


      O especialista em distúrbios de Aprendizagem e Analista do comportamento Michel dos Santos Silva esclarece que antigamente se falava em apenas uma categoria de discalculia. Hoje já se sabe que, assim como o transtorno do espectro autista, existem muitas categorias nos transtornos das habilidades aritméticas. Falamos hoje não de discalculia como categoria única, mas de discalculias. 
     Para se iniciar a discussão sobre discalculia, é necessário ter em vista que o termo "acalculia" e "discalculia" não podem ser empregados para o mesmo transtorno. 
     O termo acalculia é referido por Keller e Sutton (1991, apud Garcia, 1998, p.212) como "um transtorno relacionado com a aritmética, adquirido após uma lesão cerebral, sabendo que as habilidades já haviam consolidado e desenvolvido". Ou seja, a pessoa desenvolve a acalculia após uma lesão ocorrida em um acidente que ocasiona, por exemplo, lesão cerebral. 
     Por outro lado, a discalculia não é causada por lesões na região cerebral e está associada, principalmente, a estudantes que apresentam dificuldades durante a aprendizagem das habilidades matemáticas. O termo foi referido por Garcia (1998) como discalculia ou discalculia de desenvolvimento, e se caracteriza como uma desordem estrutural da maturação das capacidades matemáticas, sem manifestar, no entanto, uma desordem nas demais funções mentais generalizadas.          
     A criança discalcúlica poderá desenvolver todas as habilidades cognitivas necessária nas outras disciplinas escolares, mas possuir certa deficiência durante a realização de uma ou mais operações matemáticas. Se a discalculia não for detectada poderá ocasionar muitos danos na aprendizagem.        
   Com efeito, a percepção de sua limitação implicará numa incapacidade evolutiva e, consequentemente, na perda da autoestima, da autoimagem e da sua motivação para aprender.
      De acordo com o especialista em distúrbios de aprendizagem, Michel dos Santos Silva, as pessoas com qualquer distúrbio de aprendizagem não são limitadas em aprender, apenas aprendem em uma velocidade e de uma forma diferente da maioria, além disso destaca-se que a discalculia não é um problema intelectual, não se refere a inteligência (Silva, M. S. 2015). 
     Aqui também é importante distinguir que uma pessoa com dificuldade em matemática, não necessariamente tem discalculia. Fatores emocionais e ambientais eliminam a possibilidade de diagnóstico de discalculia, mas não eliminam o desenvolvimento das habilidades aritméticas.  Assim, por exemplo, uma criança que não se alimenta direito, que não dorme direito, que presencia brigas dos pais, discussões familiares, podem ter a aprendizagem afetada por esses fatores, e não porque tem algum distúrbio de aprendizagem. Esses casos são enquadrados como dificuldades de aprendizagem e não distúrbios de aprendizagem. Embora já se saiba que o ambiente tem uma grande influência no desenvolvimento das habilidades aritméticas, como é o caso dos índios da tribo Pirahã, que como visto em outra postagem, somente sabem contar até dois.
   De acordo com Vieira (2004, p.111) discalculia significa, etimologicamente, alteração da capacidade de cálculo e, em um sentido mais amplo, as alterações observáveis no manejo dos números: cálculo mental, leitura dos números e escrita dos números. 
     Em uma classificação apresentada nos estudos de Kosc (1974), foi englobada seis tipos de discalculias, afirmando que essas discalculias podem estar manifestadas sob diferentes combinações e unidas a outros transtornos de aprendizagem, como é o caso, por exemplo, de crianças com dislexia ou TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade). Os subtipos dividem-se em:
  1. DISCALCULIA VERBAL: dificuldade em nomear quantidades matemáticas, os números, os termos e os símbolos;
  2. DISCALCULIA PRACTOGNÓSTICA: dificuldades para enumerar, comparar, manipular objetos reais ou em imagem;
  3. DISCALCULIA LÉXICA: dificuldades na leitura de símbolos matemáticos;
  4. DISCALCULIA GRÁFICA: dificuldades na escrita de símbolos matemáticos;
  5. DISCALCULIA IDEOGNÓSTICA: dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos; e
  6. DISCALCULIA OPERACIONAL: dificuldade na execução de operações e cálculos numéricos.
     O primeiro passo é a identificação da discalculia, e em seguida o diagnóstico, que deve ser feito por um profissional qualificado em distúrbios de aprendizagem. E aqui é importante destacar que, embora os educadores possam ter dúvidas frente ao diagnóstico, esses não podem diagnosticar, e se perceberem indícios de qualquer distúrbio de aprendizagem, devem encaminhar aos profissionais habilitados para isso, caso não sejam habilitados. 
     Os especialistas dizem que uma das coisas que prejudica a pessoa com distúrbio de aprendizagem é o "rótulo", muitas crianças não são chamadas pelo nome, mas pela dificuldade ou pelo distúrbio: -O Disléxico faltou- Aquela criança com discalculia não presta atenção nas aulas- Tem que chamar a mãe daquele hiperativo aqui na escola. Isso é péssimo para a crianças, que é muito mais do que o diagnóstico recebido, ninguém merece ser chamado pelo nome da sua dificuldade, o ideal é SEMPRE chamar a criança pelo nome e não pelo que ela apresenta, e isso vale para todos, tanto para os responsáveis como para os educadores, pois os rótulos destroem a autoestima da pessoa e podem ser tão prejudiciais como o bullying. 
     De acordo com Bernardi (2014) "o educador deve estar atento ao processo de aprendizagem de seus educandos, principalmente quando a criança demonstrar pouca motivação para aprender, revelar uma autoimagem negativa e, consequentemente, uma baixa autoestima por cometer muitos erros durante a realização de atividades matemáticas relacionadas à construção do número ou de aritmética. Comportamentos e equívocos aparentemente banais durante a construção do conhecimento matemático, mas que podem ser a chave reveladora de uma discalculia. 
    Além disso, o professor necessita de utilização e exploração de alguns instrumentos neuropsicológicos para identificar um aluno com discalculia. Vieira (2004, p.116) formulou uma relação dos principais transtornos de aprendizagem que atingem exclusivamente a Matemática, os quais podem auxiliar o professor na identificação de um aluno com discalculia:
  • Dificuldades na identificação de números: o aluno pode trocar os algarismos 6 e 9, 2 e 5, dizer dois quando o algarismo é quatro.
  • Incapacidade para estabelecer uma correspondência recíproca: dizer o número a uma velocidade e expressar, oralmente, em outra.
  • Escassa habilidade para contar compreensivamente: decorar rotina dos números, ter déficit de memória, nomear de forma incorreta os números relativos ao último dia da semana, estações do ano, férias.
  • Dificuldade na compreensão dos conjuntos: compreender de maneira errada o significado de um grupo de coleção de objetos.
  • Dificuldade na conservação: não conseguir que os valores 6 e 4+2 ou 5+1 se correspondem; para eles somente significam mais objetos. 
  • Dificuldades no cálculo: o déficit de memória dificulta essa aprendizagem. Confusão na direcionalidade ou apresentação das operações a realizar.
  • Dificuldade na compreensão do conceito de medida: não conseguir fazer estimações acertadas sobre algo quando necessitar dispor das medidas em unidades precisas.
  • Dificuldade para aprender a dizer as horas: aprender as horas requer a compreensão dos minutos e segundos e o aluno com discalculia quase sempre apresenta problemas.
  • Dificuldade na compreensão do valor das moedas: dificuldade na aquisição da conservação da quantidade, relacionada a moedas, por exemplo: 1 moeda de 25= 5 moedas de 5.
  • Dificuldade na compreensão da linguagem matemática e dos símbolos: adição (+), subtração (-), multiplicação (x) e divisão (:).
  • Dificuldade em resolver problemas orais: o déficit de decodificação e compreensão do processo leitor impedirá a interpretação correta dos problemas orais.
     Esses transtornos específicos de Matemática requerem certa urgência na sua identificação, pois quanto antes forem diagnosticados, mais fácil tornar-se-á o processo de intervenção. É importante que o professor, ao iniciar o trabalho com alunos discalcúlicos, proporcione intervenções pedagógicas visando o resgate da autoestima e da autoimagem desse aluno. A este respeito, Coll, Marchesi e Palacios (2004a) orientam que o docente deve procurar conhecer as possibilidades dos alunos, e não apenas aprofundar-se no déficit".
     Pesquisas tem mostrado que a Análise do Comportamento contribui muito para pessoas com distúrbios de aprendizagem (Silva, M. S. 2015).
     É importante que os responsáveis saibam que não são todos os educadores que estão preparados para trabalhar com crianças com distúrbios de aprendizagem, e mesmo que estejam, nosso sistema educacional não proporciona condições adequadas para esse trabalho. Uma sala com 40 crianças e apenas um educador, é um grande desafio, e o acompanhamento de uma criança com distúrbio de aprendizagem padece por não poder ser acompanhada adequadamente, não pela motivação do educador, mas pela dificuldade em "dar atenção" para a pessoa com distúrbio, e os outros 39 que estão "derrubando a sala de aula". 
     Por isso Silva (2015) aconselha que as crianças que apresentam características de distúrbios de aprendizagem, ou mesmo as diagnosticadas, tem uma significativa melhora com o acompanhamento terapêutico, que é um trabalho clínico que visa promover a autonomia e a reinserção social, bem como uma melhora na organização subjetiva do paciente, por meio da ampliação da circulação e da apropriação de espaços públicos e privados.
     O trabalho clínico se desenvolve através de encontros cujo campo de ação é o cotidiano dos sujeitos acompanhados, e um fazer em comum, por meio do qual o paciente pode encontrar uma maneira de conduzir sua vida de forma mais autônoma. Os atendimentos podem acontecer em casa e/ou em outros espaços da cidade como cinemas, lanchonetes, shoppings, teatros, escolas etc. 
     O profissional elabora um plano de trabalho e executa a partir das demandas do paciente, e os objetivos que deseja atingir, de uma forma singular, a duração e frequência se definem em função de cada caso. 
     Para mais informações entre em contato com o especialista em distúrbios de aprendizagem pelo email: especialistamichel@gmail.com.

     Abaixo está um vídeo, sobre a discalculia, explicada no programa do Jô, assistam, em uma parte mostra um macaco resolvendo questões de memória de curto prazo, muito interessante!


terça-feira, 24 de abril de 2018

PESQUISAS NEUROLÓGICAS APONTAM DESCOBERTAS SOBRE COMO TRATAR PESSOAS QUE SOFREM DE TDAH


   O número de casos cresce ano a ano, intensificando a discussão sobre questões básicas. Há exagero no diagnóstico do TDAH? As drogas oferecem tratamento mais eficaz que psicoterapias? Avanços recentes na compreensão de como o cérebro de portadores de TDAH é diferente dos outros sugerem respostas.
    O TDAH é diagnosticado entre 2% e 5% das crianças com 6 a 16 anos. Aproximadamente 80% são meninos. Os sintomas típicos de distração, hiperatividade e agitação aparecem em todas as idades, até mesmo em adultos, mas com uma disparidade considerável. As crianças mostram-se esquecidas ou impacientes, tendem a atrapalhar os outros e têm dificuldade em respeitar limites. A falta de controle dos impulsos se manifesta em decisões precipitadas, brincadeiras bobas e alterações rápidas de humor: elas agem sem pensar. Ainda assim, crianças com TDAH muitas vezes se comportam de modo perfeitamente normal em situações novas, principalmente se tiverem pouca duração e envolverem contato direto com pessoas agradáveis, ou forem estimulantes, como assistir à TV ou participar de jogos.
Ao lado vc pode observar algumas pessoas famosas que tiveram o TDAH:
     Antecedentes como temperamento difícil ou transtornos de sono ou apetite já foram detectados em crianças com menos de 3 anos que depois foram diagnosticadas com TDAH, mas não é possível fazer uma avaliação definitiva nos primeiros três anos de vida. A inquietação física normalmente se reduz nos adolescentes, mas a falta de atenção permanece, e muitas vezes se associa a comportamentos agressivos ou antissociais e problemas emocionais, assim como a uma tendência ao uso de drogas. Os sintomas continuam na idade adulta entre 30% e 50% dos casos.
     Estudos epidemiológicos de longa duração demonstraram que o TDAH não é mais comum hoje que no passado. O aparente aumento estatístico no número de casos pode ser explicado pela maior conscientização e melhora no diagnóstico. Atualmente é possível identificar o problema segundo um conjunto de características que o diferenciam do comportamento adequado para cada idade. Mesmo assim, as discussões sobre o exagero no diagnóstico e sobre o melhor tratamento estão mais acirradas que nunca.
     O debate tem recebido subsídios dos neurologistas. Utilizando as mais modernas técnicas de imageamento, pesquisadores identificaram diferenças em várias regiões do cérebro de crianças que sofrem de TDAH. Na média, tanto seu lobo frontal como o cerebelo são menores, assim como os lobos parietal e temporal. O TDAH parece ser resultado do processamento anormal de informações nessas áreas cerebrais, responsáveis pela emoção e pelo controle dos impulsos e dos movimentos.            Mas essas variações não indicam nenhuma deficiência mental básica.
     Os médicos vêem hoje o transtorno como um extremo dentro da variabilidade do comportamento humano. Em testes neurológicos como o reconhecimento de uma sequência de letras num computador, as crianças com TDAH apresentam tempos de reação variados, mas frequentemente mais lentos. O motivo, acreditam especialistas, é que o processamento neural de informação- a base da experiência e do comportamento- pode se interromper, principalmente quando muitas exigências concorrentes inundam subitamente o cérebro. Nessas circunstâncias, ou diante de tarefas que requeiram velocidade, eficácia ou resistência, o desempenho dos cérebros de crianças com TDAH cai drasticamente. A falta de estímulo, por outro lado, leva rapidamente ao tédio. 
     O déficit de atenção fica particularmente claro quando se pede as crianças que controlem seu comportamento- interrompendo um ato impulsivo ou mantendo um alto nível de performace em determinada tarefa. O problema não está tanto na falta de atenção em si, mas na rápida queda da capacidade de prestar atenção contínua. 
     Um fenômeno diferente, no entanto, dá às crianças hiperativas uma necessidade incontrolável de se mexer. Junto com o cerebelo, que coordena o movimento, vários sistemas de controle no interior do cérebro e sob o córtex são responsáveis pelas funções motoras. Nessa região reúnem-se os neurônios do córtex motor, dos gânglios da base e do tálamo. O córtex motor representa o estágio final do processamento neural. Depois dele, os impulsos motores são enviados para os músculos. Quando a atividade nessas regiões não está equilibrada, as crianças têm dificuldade de preparar, selecionar e executar movimentos, já que não conseguem controlar ou inibir adequadamente seu sistema motor. Movimentos complexos que exigem um sequenciamento preciso são iniciados cedo demais e ultrapassam o alvo. A hiperatividade também costuma andar de mãos dadas com déficits na coordenação motora fina e com a incapacidade da criança de parar de falar.
     Em geral, a característica básica da impulsividade relaciona-se ao desenvolvimento da chamada função executiva do cérebro: a capacidade de planejar e monitorar a memória de trabalho. Conforme o cérebro amadurece, essa atribuição se desenvolve. Em crianças com TDAH, porém, ela tende a permanecer rudimentar. Em termos anatômicos, a função executiva do cérebro resulta de redes neurais no córtex pré-frontal- o chamado sistema atencional anterior. Junto com o sistema atencional posterior, localizado em grande parte nos lobos parietais, ele monitora e controla o comportamento. 
     Como tentam conduzir a vida sem uma boa capacidade de monitoração e planejamento, as crianças com TDAH enfrentam uma constante batalha com suas emoções. Quase não conseguem controlar seus sentimentos, e não suportam bem a frustração. Ficam excitadas e impacientes com facilidade e pendem para a hostilidade. Também acham difícil se motivar para realizar determinadas tarefas. Além disso, estão dispostas a agarrar a primeira recompensa que aparecer pela frente, não importa quão pequena seja, em vez de esperar por uma compensação maior e mais atraente. 
     A dopamina tem uma importante atuação no sistema límbico, que trata dos desafios emocionais, e as crianças com TDAH quase sempre têm níveis baixos desse neurotransmissor. A liberação de dopamina normalmente fortalece as conexões neurais que levam ao comportamento desejado quando há um estímulo de recompensa. Mas, quando ausente, recompensas pequenas ou mostradas no momento errado não funcionam. 
     Uma dúvida despertada por todas essas descobertas é por que regiões específicas do cérebro são menores que outras e por que motivo certas funções cerebrais ficam enfraquecidas ou desequilibradas. Os genes podem ter um papel considerável. Estudos abrangentes realizados com pais e filhos e com gêmeos idênticos e fraternos, como os conduzidos por Anita Thapar, da Universidade de Cardiff, em 1999, por Philip Aherson, do King's College, de Londres, e por Susan Sprich, do Hospital Geral de Massachusetts, também em 2001, mostram que a hereditariedade tem grande influência na ocorrência do TDAH, por exemplo, são muito mais propensos a sofrer de sintomas semelhantes. Essas pesquisas indicam que aproximadamente 80% dos casos de TDAH se relacionam com fatores genéticos. 

GENES SUSPEITOS

     Por isso, pesquisadores têm trabalhado muito para identificar os genes que sejam diferentes nas crianças com TDAH. No topo da lista de suspeitos estão genes envolvidos na transferência de informação entre neurônios. Esse grupo inclui genes para proteínas que influenciam na circulação da dopamina nas sinapses entre os neurônios- por exemplo, proteínas que eliminam moléculas mensageiras antigas para abrir caminho para as novas, Até agora, cientistas descobriram que a mediação do receptor do sinal de dopamina é muito fraca em certos pacientes, e que a reabsorção desse neurotransmissor é muito rápida em outros. 
     As pesquisas genéticas parecem indicar que problemas de comportamento estão associados a uma regulação falha do metabolismo da dopamina, atrapalhando o processamento de informação. Outro neurotransmissor, a noradrenalina, também pode ter seu papel. Apesar de as ligações genéticas entre a noradrenalina e seus receptores e condutores não serem tão claramente compreendidas, medicamentos como a atomoxetina, que inibem a reabsorção da noradrenalina pelos neurônios, provocam uma melhora real nos sintomas. 
     Combinadas as evidências dos neurotransmissores e das imagens cerebrais indicam a possibilidade de os encéfalos de crianças com TDAH terem uma organização e um funcionamento deferentes desde uma idade muito precoce. Essas disparidades orgânicas podem na verdade ser a causa das alterações comportamentais, e não consequência delas, como algumas vezes se sugere. Outra evidência é que, em alguns casos, conforme a criança amadurece, certas peculiaridades fisiológicas, como o tamanho do corpo estriado, normalizam-se, e o TDAH perde a intensidade.
     Mesmo com esses fatos, ainda não se pode ligar com certeza o TDAH a fatores físicos e genéticos conhecidos. Especialistas acreditam que os loci genéticos descobertos até hoje expliquem no máximo 5% dos comportamentos problemáticos. Se há mais variações genéticas básicas responsáveis, elas ainda não foram encontradas. A probabilidade de desenvolver um transtorno de hiperatividade depende de uma associação de vários genes diferentes.
     Além disso, há uma ampla variabilidade no grau de expressão desses fatores genéticos. Isso significa que influências do ambiente certamente têm alguma atuação. Por exemplo, o consumo de álcool e nicotina durante a gravidez tende a aumentar o risco de TDAH nos bebês e contribui para a prematuridade extrema, baixo peso ao nascer e alergias alimentares. No vídeo abaixo, o programa Fantástico apresenta alguns casos de pessoas com TDAH.

MEDICAÇÃO EM DISPUTA

     Por outro lado, também é verdade que as mães com uma predisposição genética ao TDAH têm predisposição a fumar e beber durante a gravidez. Além disso, não conseguem estabelecer regras claras e limites eficientes. Uma casa caótica pode reforçar tendências biológicas ao TDAH, levando a um círculo vicioso.
     Outros fatores psicossociais, incluindo ambiente escolar sem apoio, crises conjugais e problemas psicológicos entre os pais, além de uma ligação deficiente destes com a criança, também podem transformar uma tendência latente em um transtorno instalado.
Recentes descobertas sobre déficits nas funções cerebrais e em neurotransmissores explicam claramente por que certas drogas são tratamentos possíveis. Mas a atuação do ambiente sugere que a terapia comportamental também possa ser eficaz. A incerteza cerca hoje as duas alternativas, e o crescente uso de medicamentos é polêmico. As opiniões vão do apoio entusiástico à rejeição categórica.
     As provas materiais indicam que os alvos devem ser os sistemas de neurotransmissores. Psicoestimulantes como sulfato de anfetamina e o metilfenidato, comercializados sob nomes como Ritalina, obtiveram grande sucesso. Vários estudos clínicos mostram que estes medicamentos reduzem ou eliminam os transtornos comportamentais entre 70% e 90% dos pacientes.
     Pode parecer absurdo administrar estimulantes para crianças hiperativas. Mas essas substâncias solucionam o desequilíbrio de base genética da dopamina nas regiões do cérebro responsáveis por auto-regulação, controle dos impulsos e percepção. Efetivamente, elas evitam a reabsorção excessivamente rápida da dopamina nas sinapses. Outras substâncias que agem de forma semelhante, como a atomoxetina, um inibidor de reabsorção de noradrenalina, também funcionam.
     É compreensível que os pais resistam em submeter seus filhos a um regime de medicação de longo prazo. Notícias de que o uso da Ritalina pode ter influência na ocorrência da doença de Parkinson, que resulta da deficiência da dopamina, pioram a situação. Suspeitou-se dessa conexão porque camundongos que receberam metilfenidato antes da maturidade sexual apresentaram um número menor que o normal de transportadores de dopamina em seu corpo estriado. Mas, até hoje, nenhum caso de Parkinson foi atribuído ao uso de Ritalina durante a infância, e, na média, os pacientes de Parkinson não têm no histórico registros de ingestão maior de psicoestimulantes que outras pessoas. Mesmo assim, muitos pais temem que um tratamento longo com drogas psicoativas tornem as crianças vulneráveis ao abuso de drogas ou medicamentos no futuro.
     Recentemente no entanto, Timothy E. Wilens e seus colegas da faculdade de medicina de Harvard sepultaram essas preocupações com um estudo em larga escala. Na verdade, o uso de psicoestimulantes reduziu significativamente o risco de abuso no futuro. Comparando adultos portadores de TDAH com sintomas semelhantes, aqueles que não tomaram medicamentos para o transtorno quando crianças foram três vezes mais propensos a se tornar dependentes de drogas mais tarde, em relação àqueles que receberam os remédios.
     Isso significa que os médicos devam sair por aí prescrevendo as drogas. E sob nenhuma circunstância os médicos, pais ou pacientes devem contar exclusivamente com o remédio. Estudos mostram que a associação de terapia comportamental aumenta em muito os benefícios. Ela também ensina as crianças a superar qualquer tipo de comportamento problemático que surja mais tarde. As crianças aprendem a se observar e a se controlar. A não ser que o TDAH seja extremo, a terapia comportamental deve ser a primeira opção de tratamento. Se a criança não mostrar sinais claros de progresso depois de vários meses, pode-se considerar o uso de medicamentos.
     Para as crianças mais novas, em idade pré-escolar, deve-se em geral evitar o uso de psicoestimulantes. Os pais precisam, em vez disso, tentar trabalhar o comportamento com a criança no dia a dia. Também podem aproveitar a experiência dos professores de pré-escola, que convivem com muitas crianças diferentes, como uma ampla gama de problemas.

REMÉDIO E TERAPIA

     Um exame abrangente conduzido em 2000 pelo Instituto Nacional de Saúde Mental do Estados Unidos classificou a eficácia dos tratamentos médicos e comportamentais para o TDAH. Realizado em dois anos, o Estudo de tratamento Multimodal para Crianças com TDAH observou 579 vítimas do transtorno em seis centros médicos universitários. Os investigadores dividiram os sujeitos do teste, todos entre 7 e 9 anos de idade, em quatro grupos com planos de tratamento diferentes. Os resultados sugerem com veemência que a associação de remédios e terapias comportamentais leva às mais altas taxas de sucesso.
  • O tratamento diário de rotina com a medicação normalizou o comportamento de 25% das crianças tratadas.
  • A terapia comportamental intensiva, sem a medicação, eliminou os sintomas mais graves em 34% dos pacientes.
  • Um tratamento médico determinado especialmente para cada um, acompanhado de aconselhamento para os pais e a criança, ajudou 56% das vítimas do transtorno.
  • A combinação entre a medicação e a terapia comportamental resultou em uma taxa de sucesso de 68%. 
     Essas descobertas nos permitem tirar conclusões sobre como pais e educadores podem ajudar melhor as crianças com TDAH. Com ou sem drogas, é imperativo que as crianças sejam ensinadas a lidar com as tarefas com mais organização e menos impulsividade. Uma estratégia comum, por exemplo, é ensiná-las a contar até dez antes de realizar um impulso, como pular em cima de uma mesa na escola. Pôsteres e cartões com o sinal de "Pare" ajudam a lembrá-las a utilizar no calor do momento os truques que aprenderam. Crianças mais velhas e adolescentes podem aprender a criar planos detalhados e a segui-los até o fim, mesmo quando tarefas complicadas ameaçam pôr tudo a perder- por exemplo, quando precisam arrumar um quarto bagunçado.
     Os pais também precisam de ajuda para lidar com situações desafiadoras. Podem receber orientação em programas que tratem de suas técnicas de educação e da interação da criança com a família. Uma recomendação comum é estabelecer cronogramas escritos com as crianças, para que o fato de se aprontar para a escola de manhã, por exemplo, não se transforme numa batalha diária. Regras claras, específicas e consequências previstas também apresentam eficácia. Os pais e até os irmãos devem ser incluídos na terapia familiar, principalmente no caso de adolescentes com TDAH.
     Conforme a neurociência avança, os terapeutas tentam refinar quais as associações de drogas e terapias são mais eficientes para cada tipo de TDAH. Ainda há muito a fazer. Não se sabe quase nada, por exemplo, sobre o que acontece no cérebro das crianças com TDAH entre o nascimento e a época que entram na escola. Uma conclusão tem ficado cada vez mais clara: as diferentes combinações de comportamentos não podem ficar agrupadas na imagem de um único transtorno. Os pesquisadores buscam definir subgrupos que sejam mais coerentes em termos de sintomas e causas neurológicas. Para isso, analisam outros distúrbios muitas vezes associados ao déficit de atenção ou à hiperatividade, aproximadamente 80% das crianças com TDAH sofrem de pelo menos mais um problema, como tiques nervosos, comportamento anti-social, ansiedade ou problemas de leitura ou escrita. 
     Ao mesmo tempo, pais e professores devem se lembrar de que as crianças com TDAH possuem muitas características positivas. Elas tendem a ser atrevidas, curiosas, energéticas e engraçadas, além de inteligentes e criativas. Seu comportamento é muitas vezes espontâneo, prestativo e sensível.       
     Várias delas têm talento para fazer muitas coisas ao mesmo tempo e são grandes improvisadoras.       Pais e educadores devem reforçar esses pontos, mostrando às crianças que essas qualidades são altamente valorizadas. Isso vai ajudá-las a se sentirem menos pressionadas, um alívio que pode colaborar para que melhorem.
     Para dúvidas, você pode entrar em contato com o especialista em distúrbios de aprendizagem e colunista desse blog Michel dos Santos Silva que também tem o diagnóstico de TDAH pelo email: especialistamichel@gmail.com.
No vídeo a seguir, vc poderá observar alguns famosos com o TDAH, assista:

Por Aribert Rothenber e Tobias Banaschewski e revista Mente e Cérebro.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

AS BASES NEUROCIENTÍFICAS DA PSICOTERAPIA


     Estamos no limiar de uma nova era da ciência do comportamento, e a psiquiatria moderna tem adotado uma postura pragmática em relação à dicotomia cartesiana que define corpo e mente como entidades separadas. 
     No final do século XIX, Darwin desenvolveu a teoria da evolução, que vem sendo confirmada pelos resultados dos estudos do genoma. Descobertas neurocientíficas recentes comprovam não só a plasticidade neuronal do cérebro humano como também a tendência natural do homem de adaptar-se ao meio, através de seu "kit de sobrevivência" afetivo. Na primeira metade do século XX, os tratamentos psiquiátricos eram polarizados em dois extremos: o grupo organicista, que recorria a tratamentos físicos, como o eletrochoque, e o psicanalítico, que via a psicanálise como uma espécie de panicéia universal. Durante quase todo o século, as duas posições foram tão antagônicas que se assemelhavam ao embate capitalismo versus comunismo.
     A queda dessa espécie de muro de Berlim ocorreu a partir dos anos 90, denominada "década do cérebro", quando houve enorme avanço das neurociências, principalmente com as descobertas das técnicas de imageamento cerebral. Isso nos fez chegar neste novo milênio ao paradigma da integração cérebro-mente na área da saúde mental, resultante de uma série de pequenas mudanças ocorridas durante a segunda metade do século XX, a começar pela descoberta da clomazina, em 1952, por Delay e Denicker, na França, introduzindo os psicofármacos no arsenal terapêutico. Também os questionamentos políticos/ideológicos/ teóricos levantados pelo movimento antipsiquiátrico na década de 60, em oposição aos tratamentos vigentes, inclusive o psicanalítico, acabaram por estimular uma reação nos Estados Unidos (posteriormente denominada "revolução científica da psiquiatria) que levou à elaboração de manuais de diagnóstico psiquiátrico com critérios objetivos que permitissem maior segurança na avaliação dos transtornos psiquiátricos e na indicação terapêutica (DSM-III e CID-10).
     Atualmente, após esse enorme progresso, é possível visualizar o cérebro em pleno funcionamento e de alguma forma monitorar "coisas etéreas", como pensamentos e sentimentos, com o uso de técnicas de imageamento cerebral. O neurocientista Eric Kandel, que recebeu o prêmio Nobel por pesquisas na área do funcionamento bioquímico cerebral, tem buscado encontrar paralelos entre os achados da neurociência e os construtos hipotéticos psicanalíticos. Para ele, "a psicanálise entra no século XXI com sua influência em declínio. Se a psicanálise preferir ficar em cima de seus feitos do passado, ela permanecerá uma filosofia da mente e uma literatura psicanalítica a ser lida como um texto filosófico moderno ou poético".
     Alguns poderiam interpretar como "tendência de o pêndulo balançar em direção à biologia" o fato de se explicar que um processo psicoterapêutico eficaz provoca mudanças no funcionamento cerebral através de alterações entre conexões neuronais. Entretanto, ao contrário, essa situação deve ser encarada como uma posição "pró-psicologia", já que é exatamente por meio de relações interpessoais que se alteram representações mentais. Precisamos "colocar de volta os neurônios nas neuroses") (Vaughan, S.1997), e a própria técnica psicanalítica, também conhecida como talking cure ("a cura pela palavra"), hoje pode ser explicada pelo conceito neurocientífico de "plasticidade neuronal". 
     O processo psicoterapêutico desencadeia mudanças no comportamento do paciente, o que inevitavelmente altera o funcionamento cerebral através de transformações nas conexões neuronais e daí a estrutura cerebral e o processo de consolidação da memória. Uma nova relação de apego modifica a memória processual implícita por meio de novas experiências de relação com o terapeuta.          A busca de um modelo neural dos mecanismos de memória baseia-se nos resultados de pesquisa indicando que o treinamento ou a experiência diferenciada leva a variações significativas na neuroquímica cerebral, anatomia e eletrofisiologia. Sendo assim, é geralmente aceito que a psicoterapia seja uma poderosa intervenção que afeta e modifica diretamente o cérebro. Desde 1992 a hipótese de que ela provoca modificações no funcionamento do cérebro vem sendo confirmada através de pesquisas com imagem. 

INTERVENÇÕES NO FUNCIONAMENTO CEREBRAL 

     Novas tecnologias, incorporando as recentes descobertas sobre o funcionamento do cérebro, principalmente os atuais estudos com PET scan (tomografia cerebral computadorizada por emissão de pósitrons) e ressonância magnética funcional, permitem analisar os efeitos não só das modernas medicações psicotrópicas como também das intervenções psicoterapêuticas no funcionamento cerebral. 
     Em 1992 foi feita a primeira pesquisa desse tipo (Baxter et al., 1992), repetida posteriormente (Schwatz et al., 1996). Esses trabalhos comprovaram a eficácia tanto da psicoterapia comportamental como do tratamento farmacológico com serotoninérgéticos no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo.
     Dados de imagem visual de ensaios clínicos com pacientes diagnosticados com transtorno de stress pós-traumático (TSPT), realizando avaliação pré e pós através de spect (tomografia computadorizada por emissão de fóton único) após terapia com EMDR (movimentos dos olhos para dessensibilização e reprocessamento), mostraram que, após esse tipo de procedimento, houve aumento de metabolismo pré-frontal e diminuição de ativação do sistema límbico (Van der Kolk, 1997). 
     Pesquisa sobre o resultado da psicoterapia cognitiva no trato de sintomas do transtorno de stress pós-traumático (Rauch et al., 1996) verificou, através de medições das mudanças do fluxo sanguíneo no cérebro realizadas por meio de PET scan, assimetria funcional com predominância de estimulação do hemisfério cerebral direito e ativação do córtex visual e desativação da área de Broca. 
     Esses dados corroboram a observação de que os pacientes com TEPT têm dificuldade de estruturar cognitivamente suas experiências traumáticas, tendendo a revivenciar a situação original como se estivesse ocorrendo naquele momento e a não verbalizar essas experiências. Após o tratamento, no qual os pacientes foram expostos a narrativas vivas e detalhadas de seus próprios traumas, os resultados do PET scan revelaram um retorno ao funcionamento do fluxo sanguíneo cerebral simétrico, com ativação da área de Broca.
     Estudo usando spect antes e após um ano de psicoterapia psicodinâmica num paciente bipolar, com exames  de imagem visual comparados com um paciente bipolar controle, que não recebeu nenhum tratamento, e com dez pessoas saudáveis controle mostrou que, no início, ambos os pacientes apresentavam diminuição do metabolismo de serotonina no córtex pré-frontal e tálamo, em comparação com os indivíduos normais e, que depois de um ano de psicoterapia, o paciente apresentou funcionamento serotoninérgico normal (Viinamaki H, Kuikka J, Tiihonnen J. et al, 1998).
Pacientes apresentando depressão maior, de acordo com a classificação DSM-IV, foram submetidos a 12 semanas de tratamento medicamentoso com antidepressivo serotoninérgico (paroxetina) ou com psicoterapia interpessoal e avaliados com PET scan no início e no final do tratamento na região do córtex pré-frontal e diminuição na região do lobo temporal, em comparação ao grupo de controle. Após 12 semanas, os pacientes apresentaram mudanças metabólicas em direção à normalização nessas regiões tanto com o tratamento medicamentoso quanto com o psicoterapeutico (Brody et. al., 2001).

por: Vera Lemgruber


segunda-feira, 16 de abril de 2018

CADA LÍNGUA UMA SENTENÇA PARA A DISLEXIA


     Antigamente, crianças que tinham dificuldade para ler e escrever eram difamadas como burras e preguiçosas. Atualmente, já deve ter-se espalhado a informação de que leitura e escrita debilitadas, ou dislexia, mal de que uma em cada dez crianças sofre, não têm nenhuma relação com pouca inteligência ou ausência de esforço. Hoje são conhecidas até mesmo as regiões cerebrais envolvidas em tais atividades: nos disléxicos algumas partes do hemisfério cerebral esquerdo- em especial o córtex têmporo-parietal- permanecem bastante inativas. É ali que as sequências de letras são traduzidas em unidades carregadas de sentido. Mas será que tal diagnóstico também vale para pessoas de outras regiões linguísticas- como os chineses, por exemplo?
     Não, diz Wai Ting Siok. A psicóloga da Universidade de Hong Kong deu a 16 alunos chineses de cerca de 11 anos variados exercícios de leitura; oito eram disléxicos. Enquanto as crianças se debruçavam sobre os seus já conhecidos símbolos linguísticos, a pesquisadora mediu a atividade cerebral de cada um por meio de ressonância magnética funcional.
Constatou-se que o córtex têmporo-parietal estava normalmente ativo em todas as crianças, enquanto o giro frontal medial esquerdo era muito mais lento nos disléxicos. Nesta última região, supõe Siok, os símbolos gráficos são associados aos sons correspondentes.
     A pesquisadora concluiu, portanto, que o processamento de som e significado dos caracteres chineses- ao contrário das escritas alfabéticas- acontece de forma totalmente independente. Sendo assim, problemas de dislexia em culturas diversas teriam causas distintas- e, portanto, não se poderia falar em um mecanismo universal.
     O especialista em distúrbios de aprendizagem, Michel dos Santos Silva, destaca que "atualmente, na cultura ocidental está enraizada um caráter que coloca a dislexia, assim como qualquer outro transtorno, como um rótulo. A pessoa disléxica não é a 'dislexia encarnada', ela é muito mais do que uma característica específica. Com ou sem dislexia, qualquer pessoa tem habilidades e qualidades. Assim como existem centenas de milhares de tipos de personalidade, assim também, um disléxico é diferente do outro. Devemos aniquilar a cultura do rótulo, rotular qualquer pessoa como "incapaz", "burra", "problemática", etc, não contribui para o desenvolvimento dela, ao contrário. Todos os pais de uma pessoa disléxica devem saber que seu filho ou sua filha é capaz de aprender, mas aprende de uma forma própria e em sua própria velocidade, devem controlar a ansiedade do homem contemporâneo que quer resultado imediato. Mas do que resultado imediato, é mais importante o acompanhamento adequado com um ambiente que favoreça a aprendizagem dos filhos. Os pais devem propiciar um ambiente reforçador para os filhos, e saber que punição não vai fazer ele aprender melhor, o disléxico tem uma real dificuldade em aprender com a forma convencional, e não é sua escolha ter essa característica. Os pais que tem dúvidas sobre o diagnóstico de seus filhos devem procurar profissionais adequados, que sejam formados em distúrbios de aprendizagem e dislexia". 
 Fonte: Nature 431, 2004, pág.71)

sexta-feira, 13 de abril de 2018

ÍNDIOS DA TRIBO PIRAHÃ, NATIVOS DA AMAZÔNIA, SÓ SABEM CONTAR ATÉ DOIS

     "Mas você não sabe nem contar até três!". Isso que qualquer um de nós tomaria como ofensa não chega nem mesmo a arranhar o moral de um índio da tribo dos Pirahãs . 
     Pirahãs é uma pequena comunidade que segundo a Funasa, em 2010, a população era de aproximadamente 420 pessoas.
Esse povo nativo da Amazônia tem pouco interesse pela matemática: seu vocabulário aritmético inclui apenas as palavras "um", "dois" e "muitos". O fato de os Pirahãs não saberem lidar com grandes quantidades no cotidiano parece confirmar uma velha suposição de um inspetor de segurança dos Estados Unidos. Benjamin Lee Whorf, que teve como hobby a linguística, no início do século XX. Ao lado do etnologista Edward Sapir, Whorf elaborou uma importante teoria: aquilo para o que não temos palavras em nosso vocabulário não faz parte de nosso pensamento. Uma curta fórmula da chamada hipótese Sapir-Worth que, desde então, gerou divergências entre gerações de pesquisadores da linguagem.
     Mais de meio século depois, os Pirahãs vieram comprovar tal teoria. 
     É o que acredita o pesquisador comportamental Peter Gordon, da Universidade Columbia, de Nova York e o brasileiro analista do comportamento e especialista em distúrbios da aprendizagem Michel dos Santos Silva.
     Gordon partiu para a floresta, onde realizou uma série de atividades com índios. Quando solicitados a mostrar com os dedos quantas frutas o pesquisador colocava à sua frente, eles só conseguiram chegar ao número três. A partir de quatro, os índios ficavam inseguros, mostrando às vezes três, outras vezes cinco dedos. 
     Mesmo quando Gordon lhes pedia que enfileirassem vários objetos diante deles, a proporção de erros aumentava rapidamente se havia quatro ou mais objetos. Apenas nas ocasiões em que os índios os organizavam em grupos de dois ou três elementos, conseguiam apontar a quantidade correta.          
     Concluiu que os Pirahãs não possuem o vocabulário para expressar quantidade, e que também lhes falta essa noção. Entretanto, como reforça o pesquisador, os índios solucionaram outras atividades sem dificuldade alguma. 

     De acordo com o especialista  Michel dos Santos Silva, "o ambiente determina a gravidade do impacto aprendizagem. Desta forma, a escola, a família e o ambiente demonstram apresentar influência no desenvolvimento na aprendizagem dos indivíduos. Este impacto relaciona-se a possíveis contribuições ou fatores aversivos que podem agravar ou melhorar o quadro das dificuldades de aprendizagem ou mesmo dos Distúrbios de Aprendizagem, contudo não é desconsiderado que os distúrbios de aprendizagem são distúrbios de neurodesenvolvimento, desta forma a origem deles não é ambiental, mas sofre influência direta do ambiente". E é por isso que não podemos dizer que os índios amazonenses tem discalculia, já que esta faz parte dos distúrbios do neurodesenvolvimento. Entretanto existe neles a dificuldade apresentada que deriva do ambiente que, a priori, não reforça o comportamento de aprendizagem das habilidades aritméticas. Vemos também aqui, a influência que o ambiente tem na aprendizagem, e como diz o especialista, impactam diretamente na aprendizagem.

ASSIM COMO OS HUMANOS, OS CARNEIROS TAMBÉM SOFREM COM A SOLIDÃO

     Quem carrega sempre consigo a foto de alguém querido talvez conheça a sensação: ataques agudos de solidão podem ser amenizados com a simples observação de um retrato. Mas não são só os humanos que não gostam de ficar sozinhos. Sentimento parecido ocorre com carneiros. Apenas estando entre seus semelhantes esses bichos sentem-se bem. O isolamento lhes causa stress e gera ansiedade. Mas é difícil evitar a separação dos animais de seu rebanho- como durante a tosa, por exemplo. Como agir nesse caso?
     O neurobiólogo Keith Kendrick e seu grupo do Babraham Institute, em Cambridge, Inglaterra, fizeram o teste: colocaram carneiros em isolamento. Depois de protestarem imediatamente os animais ficaram andando de um lado para outro, irrequietos dentro das grades. Medições fisiológicas demonstram que a indesejada solidão elevava significativamente sua pulsação, inundando a circulação sanguínea com os hormônios do stress, adrenalina e cortisol.
     Quase com a mesma rapidez, porém, os animais voltavam a se acalmar quando os pesquisadores lhes apresentavam a imagem de um semelhante em um monitor. Frente a frente com um rosto conhecido, tanto os batimentos cardíacos quanto os níveis hormonais voltavam à normalidade. Fotos de cabras ou de triângulos brancos sobre um fundo preto, por outro lado, não tiveram efeito calmante.
     Os biólogos se interessaram, além disso, pelo que ocorria na cabeça dos carneiros solitários. Mediram a concentração de determinadas proteínas cerebrais que indicavam elevada atividade em algumas regiões. E vejam só: as imagens tranquilizadoras estimulavam principalmente áreas do córtex orbifrontal assim como do sistema límbico que, também nos seres humanos, são responsáveis pelo reconhecimento de rostos ou pelo controle de emoções negativas. O fato de, neste caso, o hemisfério cerebral direito estar no comando é mais um traço comum entre esses animais e os homens.
     Kendrick e seus colegas já haviam percebido em experiências anteriores que carneiros têm ótima memória. Durante os testes os animais conseguiam diferenciar até 50 retratos de seus semelhantes assim como de seres humanos, reconhecendo-os sem problemas até depois de dois anos. Um indício claro de sua forte veia social. 

(Proceeding of the Royal Society of London B online, 13 de abril de 2018, Doi: 10.1098/rspb.2018.2831)

segunda-feira, 9 de abril de 2018

GENE PODE ESTAR ASSOCIADO À COMPULSÃO

     Por que algumas pessoas têm dificuldades de controlar seus gastos e acabam invariavelmente ultrapassando o limite do cartão de crédito? Alguns colocam a culpa desses excessos na inflação ou nas altas de taxas de juros. Porém, recentemente, pesquisadores encontraram mais um "culpado" para acrescentar a essa lista: um gene associado à compulsão por gastos. Estudos anteriores já haviam mostrado que a genética desempenha papel importante na forma como administramos nossas finanças.
     Mas o estudo é o primeiro a mostrar que um gene específico pode ser o responsável por afetar o comportamento financeiro de algumas pessoas. Obviamente a relação não é tão direta, mas está ligada ao controle da impulsividade. Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego e da Escola de Economia de Londres, analisaram dados genéticos e questionários preenchidos por mais de 2 mil jovens entre 18 e 26 anos que integraram o Estudo Longitudinal Nacional da Saúde do Adolescente, publicado na revista Mente e Cérebro.
     Com esses relatórios os pesquisadores pretendiam saber se esses jovens tinham dívidas acumuladas e qual era o papel do gene de monoamina oxidase (MAO-A, na sigla em inglês), enzima que quebra os neurotransmissores do cérebro. 
     Algumas pesquisas haviam associado versões de baixa eficiência desse gene à impulsividade. O novo estudo mostrou que pessoas com uma "versão de baixa eficiência" de MAO-A tinham dívidas no cartão de crédito com frequência 7,8% maior que aqueles com duas versões maiores do gene. 
     Isso pode ser observado mesmo quando fatores como condições socioeconômicas e escolaridade foram levados em consideração. Em voluntários com duas "versões baixas do gene", esse número saltava para 15,9%. Os pesquisadores se surpreenderam com essa diferença. 
     "O efeito é quase tão grande quanto o analfabetismo financeiro qua traduz a incapacidade humana de digerir informações financeiras complexas", observa o pesquisador Jan-Emmanuel de Neve, um dos autores do estudo.

DINHEIRO COMPRA "INFELICIDADE"

    Por que muitos religiosos como freiras católicas e monges budistas fazem voto de pobreza? Deixando doutrinas e crenças à parte, tanto quanto possível, um estudo publicado na Psychological Science e na revista Mente e Cérebro, oferecem pistas que podem iluminar essa questão e esclarecer essa dúvida: o dinheiro- até o simples pensamento sobre ele- diminui a satisfação encontrada em prazeres simples da vida. Considerando que a capacidade de apreciar as experiências prediz o nível de felicidade, o psicólogo Jordi Quoidback e seus colegas da Universidade de Liège, na Bélgica, dividiram aleatoriamente 374 adultos, com perfis e atividade profissional variados, em dois grupos. 
    O primeiro recebeu a fotografia de uma pilha de dinheiro e o segundo, a mesma figura, porém desfocada e impossível de ser reconhecida. Depois os participantes fizeram testes psicológicos para medir sua capacidade de aproveitar as experiências agradáveis. Os que receberam a imagem do dinheiro pontuaram menos. 
    Em um segundo teste, o primeiro grupo recebeu um pedaço de chocolate após ter visto a fotografia do dinheiro e o outro depois de ter observado a imagem borrada. Depois os pesquisadores cronometraram o tempo que cada um levou para saborear o doce. As mulheres apreciaram a guloseima por mais tempo que os homens, porém, independentemente do sexo, os participantes que receberam a figura do dinheiro gastaram menos tempo saboreando o chocolate (em média 32 segundos contra 45 segundos). 
     Esses resultados mostram que pensar em dinheiro pode tirar o prazer.       
    Em outras palavras, apesar de o dinheiro ser um canal para o acesso a experiências prazerosas, sendo assim um reforçador secundário, ele "rouba" a capacidade de apreciar as coisas simples.

CÉREBRO TEM DIFICULDADE DE REALIZAR TAREFAS SIMULTÂNEAS

     Estudo publicado no periódico Science mostra que quando executamos duas ações ao mesmo tempo o cérebro, literalmente, divide o trabalho ao meio para que cada hemisfério se concentre em uma tarefa. 
     Para chegar a essa conclusão pesquisadores mediram a atividade neural de voluntários por meio de testes de comparação de letras. 
    Quando os participantes tinham de lidar com duas séries de sinais gráficos, realizando duas tarefas simultâneas, cada atividade correspondia a uma metade do cérebro.       
    Os resultados desse estudo podem explicar por que o desempenho piora quando realizamos três ou mais atividades simultâneas: ficamos com falta de hemisfério para realizar mais de duas tarefas. 

PREGUIÇOSOS SE SAEM MELHOR EM ATIVIDADES DIVERTIDAS

    Em uma sala de aula é possível encontrar todos os tipos de alunos. Os preguiçosos, por exemplo, em geral, são tão inteligentes quanto os demais, porém, parecem medíocres. Um estudo realizado pelos psicólogos William Hart, da Universidade de Albarracin, da Universidade de Illinois, sugere que basta classificar uma tarefa como "divertida" para que os menos esforçados superem os que geralmente se destacam. Os resultados indicam que a maneira de um educador descrever uma atividade pode influenciar muito no bom rendimento dos alunos.
    Para chegar a essa conclusão os pesquisadores classificaram os estudantes com habilidades semelhantes, distribuindo-os em categorias como dedicados ao sucesso ou interessados em diversão.     Depois, fizeram com que olhassem na tela do computador onde foram apresentadas palavras e expressões relacionadas ao bom aproveitamento como "vença" e "seja o máximo". Nos testes seguintes de aptidão, como caça-palavras, as crianças interessadas no sucesso se saíram melhor que as outras. O estudo confirmou o que já se sabia, porém, um segundo teste confundiu os pesquisadores. 
    Novamente foram apresentadas palavras motivacionais para os jovens voluntários antes que iniciassem o jogo de caça-palavras. Mas, dessa vez, ao invés de descrever a tarefa como um teste sério como havia sido feito com o anterior, os pesquisadores disseram que se tratava de uma "atividade divertida". Os resultados após essa simples mudança foram profundos: a maioria dos supostos preguiçosos não apenas se saiu melhor, mas superou os mais aplicados. Os autores do estudo enfatizaram que para alguns alunos, quando uma tarefa é apresentada como "divertida", é fundamental para a melhora da motivação e, consequentemente, para o seu desempenho. Por isso, educadores e pais, devem ser cuidadosos ao rotular atividades. 

sábado, 7 de abril de 2018

CIENTISTAS ENCONTRAM NA CAFEÍNA E NA NICOTINA, COMPONENTES PARA COMBATER O PARKINSON

   Alguns estudos têm mostrado que consumidores compulsivos de café e fumantes têm menos risco de apresentar a doença de Parkinson. Inspirados nesses resultados, cientistas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, decidiram aprofundar as pesquisas e começar a investigar como o café forte e os cigarros afetam as moscas-das-frutas. 
     Os tremores e outros sintomas motores comuns em pacientes com Parkinson são desencadeados pela morte de células cerebrais responsáveis pela produção do neurotransmissor dopamina; assim, os pesquisadores usaram moscas que haviam sido geneticamente modificadas para que as células de dopamina morressem em razão do envelhecimento. 
     Quando o pesquisador Leo Pallanck e seus colegas alimentaram as cobaias com extratos de café e de tabaco, descobriram que os neurotransmissores dopamina dos insetos sobreviveram mais e seu tempo de vida, de forma geral, também aumentou. 
     Os cientistas descartaram a cafeína e a nicotina como substâncias protetoras, mas encontraram nelas componentes promissores para combater o Parkinson e pretendem realizar novos testes.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

VERMELHO E AMARELO SÃO CORES ASSOCIADAS AO PRAZER

     É comum que as pessoas se aproximem ou se afastem de objetos devido à sua cor: o vermelho e o amarelo normalmente remetem a frutas maduras e saborosas, enquanto o verde e o marrom nos levam a coisas menos agradáveis. Para testar se isso faz sentido sob o olhar da ciência, os psicólogos Stephen Palmer e Karen Schloss, da Universidade da Califórnia em Berkeley, separaram os voluntários em quatro grupos. O primeiro devia dizer rapidamente o objeto que associava a cada uma das 32 cores propostas. Quando apresentados ao amarelo, por exemplo, listavam bananas, canários e mostarda; o segundo grupo avaliou a atração que cada objeto exercia em uma escala de zero (repulsivo) a 100 (muito agradável); e um terceiro grupo avaliou o quanto cada cor combinava com cada objeto. 
     Com ase nas diferentes avaliações feitas pelos grupos, os cientistas deram um peso matemático para cada cor indicando a força de sua conexão com os objetos mais apreciados. Finalmente os participantes do quarto grupo indicaram o quanto gostaram ou não das 32 cores anteriores usando uma escala móvel. Os pesquisadores descobriram que esse grupo tendia a apreciar as cores com os maiores pesos-as que os três grupos associaram a objetos agradáveis.
     A próxima questão é: será que a atração e a rejeição por determinadas cores são agravadas pelo nosso cérebro? Ou são as nossas experiências que moldam nossas escolhas? Agora o grupo de cientistas está testando pessoas dos Estados Unidos, México e Japão para averiguar se as cores e os objetos prediletos são diferentes em cada país. 

terça-feira, 3 de abril de 2018

VÍNCULO COM A MÃE INFLUI NAS ESCOLHAS E NO HUMOR


    A forte ligação emocional entre mães e filhos aumenta a vontade infantil de explorar o mundo- um efeito também observado no reino animal. Quanto mais seguros nos sentimos em relação à figura materna, mais propensos estamos a viver novas experiências e a correr riscos. 
    Agora os pesquisadores descobriram que esse efeito se reflete também na vida adulta: uma lembrança do toque materno ou do som de sua voz é suficiente para mudar o humor das pessoas, afetando até a sua tomada de decisões. 
    A conclusão do estudo desenvolvido na Universidade de Colúmbia pelo administrador Jonathan Levav, professor de administração, foi publicada na Psychological Science e Mente e Cérebro. Um grupo de estudantes de administração de empresas teve de escolher entre apostas seguras- títulos com 4% de retorno anual- e jogos arriscados, como investimentos na bolsa, por exemplo. Na metade dos casos, os pesquisadores tocavam levemente no ombro dos voluntários antes de dar as instruções. 
    Os estudantes de ambos os sexos tocados por uma pesquisadora tiveram maior propensão a fazer apostas de risco do que aqueles confortados por um homem. "O toque feminino pode ter despertado associações primárias, inspirando a mesma atitude observada em crianças pequenas com mães que as apoiam", explica o autor principal do estudo.
    Para confirmar que um toque de uma mulher remete a sentimentos de segurança, os pesquisadores pediram a outro grupo para tomar decisões financeiras após um exercício no qual metade deles escreveu sobre uma época em que se sentiam seguros e apoiados, enquanto a outra parte abordou justamente o oposto. Evocar uma sensação de insegurança deixou os voluntários do segundo grupo especialmente receptivos ao contato das pesquisadoras e mais dispostos a correr riscos. 
    No entanto, o toque não é a única fonte de conforto maternal. Em outro estudo, pesquisadores da Universidade de Winsconsin-Madison "estressaram" um grupo de meninas entre 7 a 12 anos com exercícios de matemática oratória. Logo depois, reuniram algumas com suas mães e às outras ofereceram apenas uma ligação telefônica. As garotas que apenas falaram com as mães liberaram tanta ocitocina, o hormônio dos vínculos sociais, quanto as que puderam abraça-las. Os dois grupos tiveram níveis igualmente baixos de cortisol, o hormônio do estresse, o que pode explicar por que tantas pessoas ligam para a mãe quando estão tristes.

RAIOS ULTRAVIOLETA PARA COMBATER ESCLEROSE MÚLTIPLA

   Um nível de exposição (UV) parece ter um papel importante nos mecanismos que desencadeiam a esclerose múltipla, doença neurodegenerativa que danifica os nervos e compromete progressivamente os movimentos. É o que mostra um estudo feito por cientistas da Universidade de Winsconsin-Madison, nos Estados Unidos, em um artigo publicado nos Proceeding of the National Academy of Sciences.
     Há mais de 30 anos sabe-se que a incidência da doença é menor nos trópicos, que recebem mais radiação solar. A explicação se baseava no fato de que, nessas regiões, as pessoas sintetizam mais vitamina D, nutrientes que protege contra a esclerose múltipla. Mas experimentos com animais revelam que a exposição à luz ultravioleta- que está presente na radiação solar, mas não é visível- é capaz de diminuir os sintomas e frear o avanço da doença.
     Os pesquisadores acreditam que algum composto produzido na pele em resposta aos raios UV module a resposta imunológica, mas lembram, porém, que esses resultados são experimentais e que as pessoas devem se proteger contra o excesso de sol, que pode causar danos a pele. 

FAST-FOOD PODE AUMENTAR ANSIEDADE E COMPULSÃO

     O hábito de comer lanches rápidos não faz mal apenas à saúde, mas também ao equilíbrio emocional e, consequentemente, ao bolso. Uma pesquisa da Universidade de Toronto, no Canadá, mostrou que a simples exposição aos símbolos da cultura fast-food (como marcas de famosas cadeias de lanchonetes) aumentou a pressa dos participantes e os fez comprar compulsivamente.
     A apresentação dos estímulos foi feita de forma subliminar, durante a exibição de um filme. "A praticidade do fast food nos faz ganhar tempo", diz Sanford DeVoe, corrdenador do estudo. "Mas, ironicamente, essa eficiência nos torna muito mais impacientes e menos capazes de economizar dinheiro", completa.
     Segundo ele, as campanhas por uma alimentação mais saudável que alertam para os prejuízos do consumo da "comida rápida" para a saúde deveriam enfocar também as perdas financeiras. O estudo foi publicado na revista Psychological Science e Mente e Cérebro. 

segunda-feira, 2 de abril de 2018

IDOSOS COMPULSIVOS DEMORAM PARA BUSCAR TRATAMENTO

    Pessoas com mais de 60 anos com compulsão por jogos tendem a demorar mais tempo para buscar ajuda especializada. Em contrapartida, elas geralmente apresentam quadro clínico menos grave que os mais jovens e podem responder melhor ao tratamento. A conclusão é de uma pesquisa feita no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC/USP) pela psicóloga Cecília Galetti.
      O estudo apontou ainda diferenças de gênero no perfil dos compulsivos: os homens tendem a começar a jogar antes dos 30 anos, enquanto as mulheres, por volta dos 50. Em ambos os casos, a busca pelo tratamento só aconteceu depois dos 60 anos. Comparados aos pacientes jovens, os idosos que participaram da pesquisa tinham menor grau de instrução, melhor condição socioeconômica e, em geral, moravam sozinhos. Os dois jogos eletrônicos preferidos, em qualquer faixa etária, são videobingo e máquinas caça-níqueis. 
      Além do quadro clínico menos grave, o desenvolvimento da compulsão por jogos é mais lento nos idosos, segundo a psicóloga. "Isso indica que eles podem responder melhor ao tratamento", afirma Cecília. "Ao mesmo tempo, há a possibilidade de se tornarem agentes multiplicadores, alertando uns aos outros, o que aumentaria o nímero de pessoas que procuram atendimento".

domingo, 1 de abril de 2018

AVE SE COMUNICA COM FILHOTE AINDA NO OVO

  As fêmeas de canário são capazes de se comunicar com seus filhotes quando eles ainda nem saíram do ovo. É o que mostra um estudo feito na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, publicado na revista Science e Mente e cérebro. Ouvindo os conselhos da mãe através da casca, as pequenas aves conseguem ajustar seu comportamento para a aventura que terão do lado de fora e aumentar suas chances de sobrevivência.
    A mensagem materna se resume basicamente em adiantar ao filhote se ela será uma mãe generosa ou não. No caso das fêmeas dedicadas, os filhotes, após a eclosão do ovo, não pouparão esforços para pedir comida; no outro, eles serão mais comedidos. Segundo os autores trata-se de um ajuste adaptativo em que o objetivo é ganhar peso de modo eficiente, sem desperdícios. 
    Assim, o filhote da mãe "displicente" não gastará suas calorias se agitando para pedir mais alimento (algo que ela provavelmente vai ignorar) e assim poderá assimilar quase tudo que lhe é colocado na boca. Já o canarinho "sortudo", com a mãe mais dedicada, tem maiores chances de um esforço extra na refeição em resposta a seus apelos "desesperados".

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